Pelos corredores das duas unidades da Beneficência Portuguesa de São Paulo são feitas 34 mil cirurgias por ano. Mais que isso, são cerca de 1,5 milhão de pessoas passando por 4,5 milhões de exames anualmente. Números relevantes diante de 1,5 mil médicos especialistas em mais de 60 áreas. E apesar da robustez de um corpo clínico num hospital acreditado em nível 3 pela ONA, grande parte desta excelência requer detalhes de gestão que vão muito além da segurança de um paciente hospedado, por exemplo. Passa, sim, por uma variedade de pessoas e empresas envolvidas num planejamento diante dos riscos da operação hospitalar, que muitas vezes depende de um detalhe mínimo, estrutural e quase imperceptível. Desde o tamanho de uma porta até um metro quadrado a mais para alojar uma equipe remota. Pormenores grandes o bastante para fazerem a diferença.
A contratação de empresas prestadoras de serviço nas mais diversas áreas, da geração de energia ao transporte de cargas, pode se dar em dois momentos: no início de alguma operação, quando o trabalho se dá desde a fase de planejamento, ou então para questões pontuais, remotas, em determinadas áreas e necessidades.
?Quando vamos fazer uma reforma física ou a construção de um novo bloco, as construtoras escolhidas passam por normas de segurança e trabalham de acordo com os padrões que precisaremos ter lá na frente. Ou então, há também a manutenção de um grande equipamento, uma tomografia, por exemplo, que a gente tem a preocupação de chamar uma equipe com alto potencial técnico, como da Siemens ou da GE, para atuar fora do horário de operação?, explica o superintendente corporativo do Beneficência Portuguesa, Fábio Tadeo Teixeira.
Na organização interna do hospital, pode-se dividir as prioridades em três: a preocupação com as instalações físicas no sentido de não permitir uma falta de abastecimento de gás, o rompimento de uma tubulação ou um incêndio, por exemplo; a logística da entrada e saída de materiais, que não podem atrapalhar o fluxo interno nem causar desconforto no centro médico; e a limpeza geral do empreendimento, que precisa estar livre de poeira e lixo.
Nessa gama de necessidades, Teixeira conta com 145 empresas prestando serviço ao Beneficência. Ele afirma que o nível de qualidade e profissionalismo das empresas contratadas têm crescido, com relações cada vez mais saudáveis, inclusive. O executivo coloca também que o preço não pode ser o fator preponderante na negociação, já que a busca tem de ser incessante atrás do melhor trabalho possível: ?Quanto melhor a empresa é, menos problema ela nos dá, e isso é o mais importante?.
Hospital x prestador
Além das empresas que prestam um serviço específico ? como a que faz manutenção nos equipamentos, exemplo já citado acima ? há ainda aquelas que fazem o trabalho completo, passando pela própria gestão do serviço terceirizado. É o caso da Dalkia, que muitas vezes é contratada para pensar toda a área da hotelaria hospitalar (do conforto na recepção à limpeza) ou então administra o contrato do hospital com uma empresa terceira.
?Tudo é para deixar o hospital se preocupando com o fim, e eu como o meio, o apoio, o suporte. Por exemplo: encontramos hospitais que contratam nossa empresa e quando chegamos com uma equipe de manutenção do patrimônio nos colocam numa sala pequena, improvisada. Ou seja, não pensaram no espaço que abriga a equipe de manutenção, o que nos mostra que é preciso pensar até na estrutura, no design dos bastidores do empreendimento?, aponta o diretor de saúde e projetos estruturados da Dalkia, Daniel Figueiredo.
A empresa fechou o último ano com R$ 327 milhões de faturamento, sendo que um terço corresponde aos trabalhos na área de saúde, onde atua em cerca de 50 unidades e um total de 4 mil leitos com uma equipe de 2 mil funcionários. A expectativa, de acordo com Figueiredo, é que o montante arrecadado na saúde triplique nos próximos anos e chegue a casa dos R$ 300 milhões em 2017.
Mas, apesar do otimismo com o negócio, Figueiredo aponta a existência de uma certa resistência dos hospitais em relação à terceirização. Uma espécie de barreira, tabu. ?É muito mais um feeling que eu sinto no setor privado, já que o público costuma terceirizar mesmo esse tipo de trabalho. O que ocorre é que é muito pulverizado, o hospital contrata 5, 10, 15 empresas, uma para o ar condicionado, outra para limpeza, outra para segurança, e por aí vai. Aí vira uma carteira grande para administrar. São muitos contratos, precisa de uma equipe grande para gerenciar, e são interlocutores diferentes, condições diferentes. A integração disso otimiza os custos, mas há uma também resistência em ficar muito dependente de uma empresa só. Tem de ver que por melhor que seja a equipe técnica do hospital, a tendência é que a empresa especializada tenha uma habilidade maior?.
Questionado sobre o assunto, o especialista em gestão de risco Carlos Faria, também da Dalkia, dá outra versão em relação à resistência diante dos terceiros. ?Está ligada à má qualidade dos serviços prestados. O nível ainda é ruim, e falta especialização para se trabalhar em hospital. São poucas que se dedicam ao setor porque a área de saúde tem muitos requisitos, é diferente de atuar em shopping ou indústria?.
Um exemplo: gás
Para exemplificar com um dos trabalhos realizados por empresas contratados por um hospital, vale o caso da logística necessária em torno do oxigênio líquido contado pela Air Liquide nas palavras do gerente de desenvolvimento de projetos Marcelo Barrancos. ?O oxigênio líquido tem de estar isolado, com uma tubulação de cobre que tem de seguir normas específicas. Depois, os materiais têm de ser compatíveis com oxigênio e então entra-se numa série de válvulas e reguladores. No caso dos hospitais, por exemplo, podemos fornecer esses módulos de vácuo que produzem aspiração?, explica.
De fato, a instalação de um tanque criogênico para armazenar o gás precisa ainda seguir distâncias mínimas de segurança definidas pelas normas vigentes. Além disso, demanda uma base civil onde o tanque será instalado, devidamente dimensionada para suportar um tanque cheio que fique fixo e nivelado por todo o tempo. O trabalho segue uma linha tão rígida que ainda de porte da empresa o oxigênio líquido fica armazenado no tanque isolado à vácuo, que garante a manutenção da temperatura e impede a evaporação e o consequente aumento de pressão.
?E há casos do hospital procurar a gente já no início da implantação para que todo o processo seja construído da melhor forma, sem problemas lá na frente?, finaliza Barrancos. Já pensou depois o tanque não passa pela porta? Pois é.
Quando contratar
A contratação de empresas prestadoras de serviço nas mais diversas áreas, da geração de energia ao transporte de cargas, pode se dar em dois momentos:
? Início de alguma operação, quando o trabalho se dá desde a fase de planejamento;
? Questões pontuais, remotas, em determinadas áreas e necessidades;
Organizando as prioridades
? Cuidado com as instalações físicas no sentido de não permitir uma falta de abastecimento de gás, o rompimento de uma tubulação ou um incêndio, por exemplo;
? Logística da entrada e saída de materiais, que não podem atrapalhar o fluxo interno nem causar desconforto no centro médico;
? Limpeza geral do empreendimento, que precisa estar livre de poeira e lixo.