Apesar de não serem ingeridos, antibióticos presentes em tratamentos tópicos, como cremes e pomadas, também representam riscos de resistência bacteriana. No Brasil, uma resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) determina, desde novembro de 2010, a obrigatoriedade da retenção de uma via da receita médica para a compra de antibióticos, inclusive tópicos.
O objetivo é limitar a venda e dificultar a automedicação, que facilita o desenvolvimento de resistência bacteriana. No entanto, a Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta que mais de 50% das prescrições de antibióticos no mundo ainda são inadequadas.
Para o Dr. Adilson Costa, dermatologista e coordenador do Ambulatório de Acne e Cosmiatria da PUC-Campinas, mesmo com a retenção da receita, é necessário investir em fiscalização e educação junto ao público nos pontos de venda. “O tipo de relacionamento entre consumidores e farmácias pode criar facilitadores para a automedicação. Há ainda o risco de uso inadequado de medicamentos prescritos quando, após o término de um tratamento, o paciente guarda o que sobra, pensando em uma eventual necessidade futura, que, na maioria das vezes, ou é cumprida como sub-dose (somente com o que sobrou na embalagem) ou como indicação de uso errada”, explica.
Outro ponto apontado pelo dermatologista é o desconhecimento do público em relação à seriedade do uso consciente de antibióticos, que passa pela necessidade de uma indicação precisa e também pela dose e tempo de tratamento correto para cada doença. “A educação, obviamente, visa o indivíduo, mas, também, a coletividade, pois existe o risco de passagem de resistência bacteriana para pessoas que convivem com os pacientes já resistentes, mesmo quando estas pessoas nem sequer usaram o antibiótico em questão”, alerta o médico.
O uso de um mesmo antibiótico de forma inadequada para tratar doenças de grande prevalência, como a acne, também pode facilitar o desenvolvimento da resistência bacteriana. No Brasil, atualmente, 40%* dos medicamentos tópicos usados no tratamento da acne contêm antibióticos, mesmo com a existência de opções mais modernas e altamente toleráveis que são livres da substância. Para o Dr. Adilson Costa, na acne, que é uma doença crônica, o uso inadequado de antibióticos poderá causar sérios riscos à saúde do indivíduo.
Segundo o especialista, quando se pensa em acne, o risco de resistência antibiótica ao Propionibacterium acnes na pele é a preocupação maior. No entanto, para a saúde em geral, é muito sério o risco de surgimento de resistência em outros órgãos. “Em órgãos internos, a resistência pode levar ao insucesso terapêutico em uma determinada ocasião em que seja necessário utilizar antibióticos, predispondo, inclusive, à septicemia”, ressalta.
*Fonte: PMB – IMS Fev’11 – MAT2010
Dicas do especialista:
• Quando um médico indicar um creme ou pomada, pergunte se contém antibiótico. Se você tiver que usar o mesmo medicamento no futuro, é importante saber quanto tempo faz que usou pela última vez.
• Em tratamentos por longos períodos, pergunte ao seu médico se existem outras opções eficazes para tratar a doença sem usar antibióticos.
• Não incentive outras pessoas a usarem pomadas ou cremes que você já usou. Mesmo não sendo ingeridos, eles também são medicamentos e só devem ser usados quando prescritos por um médico.
Fonte: Dr. Adilson Costa, dermatologista e coordenador do Ambulatório de Acne e Cosmiatria da PUC-Campinas.