Os problemas de acesso à água podem ser determinantes na deterioração das condições sociais da população mundial mais vulnerável e no aumento da desnutrição. O declínio do acesso à água é determinante na produção agrícola e na disponibilidade de alimentos, no acesso à água de má qualidade e na falta de saneamento básico, aumenta a incidência de enfermidades transmissíveis que podem causar diarreia e prejudicar os níveis de nutrição infantil, estando associada a questões como o baixo peso ao nascer.
Confira a análise na íntegra:
A partir dos dados do cálculo do Índice de Progresso Social (IPS) de 2015 foi possível medir o desempenho de diversos países considerando uma bateria de 52 indicadores ordenados segundo alguns princípios básicos. O índice considera três componentes: Necessidades Humanas Básicas, Fundamentos do Bem Estar e Oportunidades.
Tabela 1: Índice de Progresso Social: Componentes, Dimensões e Indicadores
Em 2015, foi analisado o IPS, seus componentes e indicadores em 133 países (dos quais 21 latino-americanos) dividindo os países em seis categorias de progresso social:
- Países com progresso social muito alto (IPS acima de 86,4);
- Países com progresso social alto (IPS entre 77,4 e 86,4);
- Países com progresso social médio alto (IPSentre 67,1 e 77,4);
- Países com progresso social médio baixo (IPS entre 55,3 e 67,1);
- Países com progresso social baixo (IPS entre 43,3 e 55,3);
- Países com progresso social muito baixo (IPS abaixo de 43,3).
A tabela 2 mostra o IPS para os países da América Latina e Caribe e sua renda per-capita.
Tabela 2 – Índice de Progresso Social nos Países da América Latina (IPS-2015)
De acordo com esta classificação nenhum país da América Latina e Caribe, com dados conhecidos, tem progresso social muito alto. Os países latino americanos tiveram os seguintes scores:
a) Progresso social alto – Uruguai, Chile e Costa Rica;
b) Progresso social médio alto – Argentina, Panamá, Brasil, Jamaica, Colômbia, Equador, México e Paraguai;
c) Progresso Social Médio Baixo – El Salvador, Venezuela, Bolívia, República Dominicana, Nicarágua, Guatemala, Honduras, Cuba, Guiana.
Nenhum país da Região foi também classificado como tendo progresso social baixo ou muito baixo, o que caracteriza a Região como tendo progresso social médio ou ligeiramente alto.
De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação (FAO, na sigla em inglês), houve uma diminuição de 15,3% (1990-92) para 6,1% (2012-2014) nas taxas de prevalência de desnutrição para a Região da América Latina e Caribe com redução do número de desnutridos de 68,5 para 37,0 milhões de pessoas neste último período.
Correlações entre Nutrição e Atenção Médica Básica x Água e Saneamento
A tabela 3 mostra as correlações entre os indicadores de duas dimensões do IPS 2015 (Água e Saneamento e Nutrição e Atenção Médica Básica) para o conjunto de 24 países da América Latina e Caribe onde os indicadores estavam disponíveis. Os coeficientes de regressão foram classificados em células de três cores, indicando variáveis de correlação:
Verde – quando o coeficiente de regressão é superior a 0,85; de (alta correlação)
Amarelo – com coeficientes de regressão entre 0,7 e 0,85 (média correlação)
Vermelho – quando os coeficientes de regressão são inferiores a 0,7 (baixa correlação).
Tabela 3: Coeficientes de Regressão do Cruzamento de Duas Dimenões do IPS-2015 (Nutrição e Atenção Médica x Água e Saneamento) para 24 países da América Latina e Caribe
Os dados mostram que, ao nível agregado, existe uma forte correlação entre as duas dimensões consideradas (nutrição e atenção médica x água e saneamento), o que leva a deduzir que a melhoria das condições de abastecimento de água e saneamento básico poderá melhorar as condições de saúde e nutrição na Região.
No entanto, se verifica ao correlacionar os indicadores individuais que compõe estas dimensões, que as maiores correlações se encontram associadas à dimensão água e saneamento e aos indicadores de desnutrição e profundidade do déficit alimentar. Destaca-se também que pode existir um efeito aditivo quando se consideram os três indicadores da dimensão água e saneamento nos indicadores de desnutrição e déficit alimentar.
O gráfico a seguir mostra a relação entre a dimensão agregada água e saneamento do IPS e o indicador de desnutrição.
Em meados da presente década, a Organização Pan Americana da Saúde mencionava que a falta de água potável e de saneamento constituía a segunda causa indireta de morbimortalidade para as crianças com menos de 5 anos de idade na Região Latino-Americana, sendo o maior componente de carga de enfermidade associada ao ambiente (5). Mas a maior ironia associada a este processo residia no fato de que cerca de 31% dos recursos hídricos do mundo concentram-se na Região, sendo a ALC a região mundial com maior disponibilidade de água doce per-capita do mundo. No entanto, a irregularidade, a má gestão e a falta de uma cultura de preservação dos recursos hídricos fazem com que os serviços não cheguem a quem precisa, aumentando os riscos associados a saúde e a desnutrição. A situação se torna ainda mais drástica com os problemas que se associam à mudança climática que tem castigado fortemente a Região nos últimos anos.