O câncer representa 7% dos custos de tratamento em saúde e é a segunda causa de morte no mundo, perdendo apenas para doenças cardiovasculares. Com o avanço da medicina, que tem prolongado a sobrevida dos pacientes, estes custos só tendem a aumentar. Diante de previsões tão assustadoras para a rede de saúde, profissionais do setor se reuniram esta semana para discutir alternativas para uma melhor gestão. Para o coordenador do Centro de Oncologia do Hospital Nove de Julho e diretor do Centro de Combate ao Câncer, Cid Buarque Gusmão, as respostas estão ligadas a incorporações de novas tecnologias e a uma variabilidade na prática médica com o objetivo de reduzir os altos custos com tais pacientes. ? É preciso haver uma assistência à saúde baseada em evidências. Não existe mais espaço para a opinião do especialista, é necessário se basear em premissas científicas?, defende. Em coro com Gusmão, o representante da Unidas, Walter Lyrio do Valle, afirma que ?a medicina de qualidade é a mais barata?. Ou seja, um tratamento eficaz reduz a volta do paciente e a repetição de exames desnecessários. Por essa razão, o especialista recomenda a remuneração pelo tratamento completo, e não por eventos. Além disso, o representante da Unidas diz que procedimentos de alta qualidade e com baixa frequencia devem ser concentrados em um único prestador por macro região. ?Para evitar desperdício, não contrate os prestadores para atender todos os níveis de complexidade?, adverte.

A diretora da Primax Consultoria em Oncologia, Márcia Garcia, trouxe à mesa uma experiência bem-sucedida no que diz respeito a tratamento de pacientes que estejam fora de possibilidades terapêuticas. Tais casos normalmente acabam em internamento por vários dias em UTIs e os custos se tornam altíssimos, mesmo quando não há mais chance de cura. Márcia contou a experiência da Unidade de Cuidados (Unic) da Primax que já atendeu 123 pacientes no sistema home care, ou seja, atendimento domiciliar. Segundo a diretora, a porcentagem de óbito desses pacientes foi de 46% contra 53% de pacientes no mesmo caso internados em um hospital. ?Há caminhos possíveis na redução de custos com tais pacientes, quando há um pacto de contenção de gastos entre as partes envolvidas, limitação de linhas de tratamento, diminuição de exames, além de avaliação periódica de oncologistas.? E completa: ?Muitos médicos encaminham tal paciente a UTI para lutar contra a morte, quando muitas vezes o óbito em casa é mais natural e tranquilo?. O gerente técnico atuarial da Qualicorp, Thiago Ramos, afirma ainda que o cliente pode ter uma grande influência nos custos do setor de saúde. ?É preciso informar o cliente de como utilizar da melhor maneira o atendimento médico e mostrar que o alto custo está ligado ao uso desnecessário. Afinal, todo cliente quer um baixo custo com alta qualidade e nem sempre uma lista imensa de profissionais disponíveis no plano de saúde significa que o atendimento seja eficiente.?

* O debate aconteceu no dia 11 de agosto no I Simpósio em Gestão de Saúde, promovido pelo Centro de Combate ao Câncer.