Alterações fisiológicas próprias do envelhecimento, doenças crônicas e até mesmo condições socioeconômicas e familiares podem interferir no modo como o idoso lida com a alimentação. O aumento exponencial da incidência de câncer na terceira idade – decorrente do envelhecimento populacional mundial – exige atenção redobrada à rotina alimentar desse público. No Brasil, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), 70% dos diagnósticos da doença ocorrem em indivíduos acima de 60 anos, sendo que 60% desses pacientes têm mais de 70 anos.
De acordo com a nutricionista Marina Lopes, supervisora do Serviço Nutrição e Dietética do Hospital Erasto Gaertner, a prevalência de desnutrição pode variar entre 30-80% nos pacientes com câncer, dependendo do tipo de tumor. “A assistência nutricional ao paciente idoso oncológico tem como objetivo prevenir ou reverter o declínio do estado nutricional, amenizar os efeitos colaterais do tratamento, melhorar o sistema imunológico, assim como promover qualidade de vida”, diz. “A Nutrição também exerce papel fundamental no período pré-operatório, deixando o paciente preparado para a cirurgia”, acrescenta.
Os riscos de um tratamento oncológico são os mesmos em pacientes mais jovens, mas nos idosos podem se manifestar de forma mais acentuada: anemia grave, perda de apetite, insuficiência renal, perda de peso, desnutrição profunda, depressão, aumento de internações e infecções, entre outros. Cabe aos profissionais de Nutrição a avaliação nutricional individualizada do paciente, levando em consideração suas características pessoais, assim como a doença, o tratamento realizado, os efeitos colaterais relatados. “Existem suplementos nutricionais e nutrientes específicos, que podem auxiliar no tratamento do câncer, que poderão ser prescritos pelo profissional”, ressalta Marina.
Prevenção de doenças – No processo de envelhecimento normal ocorrem alterações fisiológicas e biológicas, que afetam a alimentação e a nutrição na terceira idade. A diminuição do paladar, redução do olfato e visão, diminuição da saliva, falha na mastigação e constipação intestinal, interferem diretamente no estado nutricional. A manutenção de uma alimentação adequada é de extrema importância para a saúde da pessoa idosa, tanto na recuperação como na prevenção de doenças. O que se come pode interferir tanto no aparecimento da doença, como na determinação de sua gravidade, o que justifica a preocupação com o padrão alimentar no envelhecimento.
Por isso, é recomendada uma dieta equilibrada, sendo composta por: carboidratos complexos (batata, arroz, mandioca, pães) e fibras (aveia, farelo de trigo, arroz integral, frutas e hortaliças); gorduras insaturadas (óleos vegetais; soja, milho, canola, azeite de oliva e peixes); carnes magras e brancas (filé mignon, coxão mole, patinho e lagarto, frango sem pele e peixes); frutas, verduras e legumes. A água é fundamental e não pode ser esquecida. O ideal é consumir de 8 a 10 copos de água, chás ou sucos por dia.
Atenuando os efeitos colaterais – Náuseas, vômitos, anorexia (perda de apetite), diarreia ou constipação, alterações de olfato e paladar, xerostomia (boca seca), mucosite (lesões nas mucosas do trato gastrointestinal), estão entre os efeitos colaterais mais comuns do tratamento oncológico. Algumas condutas nutricionais podem minimizar os efeitos colaterais do tratamento quimioterápico/radioterápico. Faz-se necessário, após o diagnóstico da doença, buscar um acompanhamento nutricional, verificando quais condutas deverão ser seguidas por aquele determinado paciente para auxiliar no tratamento do câncer.