Temos falado muito sobre pagamento por performance, no entanto acho fundamental apresentarmos alguns resultados práticos de projetos onde há uma vinculação do honorário médico ao seu desempenho em termos de qualidade da assistência.
Há alguns anos implantamos um projeto numa medicina de grupo onde a verticalização da atenção básica foi o foco. Obviamente que a remuneração médica é um ponto crítico nos processos de verticalização, pois se tem observado vários equívocos por parte das operadoras, principalmente cooperativas, que buscam a verticalização de estruturas ambulatoriais, sem modificar a lógica da remuneração dos profissionais. Simplesmente colocam médicos cooperados ou credenciados recebendo da mesma forma que em seus consultórios. Ou ainda, contratam os profissionais por hora ou salário.
Nestes casos temos dois modelos simples de remuneração: o retrospectivo (fee-for-service) e o prospectivo (por salário). Vários autores afirmam que estes dois modelos são prejudiciais a qualidade da assistência. Robinson, no começo da década de 90 apontava: ?Todo e qualquer movimento para remuneração prospectiva aumenta os incentivos de sub-tratamento e seleção de risco. Todo movimento compensatório para remuneração retrospectiva, revive o tradicional incentivo por estilos de práticas inconsequentes de custos?.
Com isso me mente, o desafio foi lançado: como resolver estes dois extremos que já se mostraram inadequados? A solução proposta nesta medicina de grupo foi a implantação de um modelo híbrido de remuneração: salário mais um componente de produção e outro de performance. Foi definido que, adicionalmente a remuneração fixa, seria disponibilizado até 25% a mais para a produtividade e mais 25% para o componente de desempenho.
A performance era medida por indicadores de eficiência (custos e utilização), efetividade (desfechos intermediários), satisfação do cliente (através de pesquisas) e indicadores estrutura, como a formação do profissional e o seu envolvimento em programas de treinamento da instituição. Já tivemos oportunidade de detalhar o modelo que utilizamos neste Blog.
Os resultados observados após um ano de projeto foi notável. Houve uma redução de 34,5% do custo médio gerado pelas consultas, uma redução média de 50% dos exames gerados nas consultas realizadas pelas mesmas especialidades quando comparada com a rede aberta, e uma redução de mais de 10% nos índices de internação por estas especialidades.
O índice de satisfação foi elevadíssimo, pois como se tratava de um ambulatório disponível apenas aos usuários que possuíam contratos de rede restrita, os usuários da rede aberta somente o utilizavam se quisessem. O que observamos foi que, além de um índice de satisfação maior que 90%, o ambulatório precisou se aumentado, pois 38% das consultas realizadas neste ambulatório eram provenientes de usuários da rede aberta, denotando uma procura maior pelo serviço que teve uma reorganização completa na forma de atendimento, além da forma como os médicos eram remunerados. (Quem quiser maiores informações sobre o modelo acesse http://www.2im.com.br/solucoes-rhias.php).
Com isso fica claro que ainda temos margem para melhorar a remuneração médica através da redução dos desperdícios, do excesso de tratamento que não gera valor, e principalmente, do engajamento do médico em uma nova lógica focada na qualidade e não no volume e complexidade.