Em geral, as empresas buscam apenas gerenciar os afastamentos no curto prazo e não percebem que estão “enxugando gelo”. Os afastamentos estão relacionados principalmente às questões osteomusculares e mentais, assim como às condições crônicas. Portanto é necessário olhar para toda a população e não somente os afastados.

O IBGE e o Ministério da Saúde apresentaram no último dia 30 de junho novos resultados da Pesquisa Nacional de Saúde que trazem subsídios importantes para os gestores de saúde nas empresas.

A pesquisa revelou que, no ano pesquisado, 3,4% dos respondentes (o equivalente a 4,9 milhões de pessoas) se envolveu em acidente no trabalho nos últimos 12 meses e em consequência, um terço deixou de realizar suas atividades habituais (1,6 milhão) e 12,4% (613 mil) ficaram com alguma sequela ou incapacidade.  Desse total, 32,2% (1,4 milhão) teve acidentes no deslocamento para o trabalho.

Com relação às condições crônicas mais comuns, 31,3 milhões de pessoas relataram hipertensão arterial, 18,4 milhões colesterol elevado e 27 milhões problemas de dor nas costas. Além disso, constatou-se que as três condições tinham prevalência maior entre as pessoas ocupadas do que entre as desocupadas. Cerca de 2,8% (ou 2,5 milhões) relataram a ocorrência de distúrbios osteomuscular relacionado ao trabalho.

Já a depressão foi relatada por 7,6% das pessoas ocupadas, com maior prevalência entre as mulheres (e 10,2% dentre as que não possuíam emprego). Dentre as pessoas ocupadas, 5,0% (ou 4,5 milhões) relataram tomar remédios para dormir. A prevalência de depressão aumentou até os 60 anos de idade.

A PNS constatou que 32,5% das pessoas ocupadas dispunham de algum plano de saúde e, dentre eles, 41,2% tinham seus planos de saúde pagos pelo empregador (12,4 milhões). Cerca de 70% dos respondentes empregados relataram ter consultado um médico nos doze meses anteriores à pesquisa  e 4,8% (4,5 milhões) tiveram uma internação hospitalar. Dentre eles, 12,6%(11,7 milhões) já tiveram dengue diagnosticada por médico.

Com relação aos fatores de risco e proteção, cerca de 17% das pessoas ocupadas (13,7 milhões) relataram fumar e dentre as que não fumavam e que trabalhavam em ambientes fechados, 13,5% relataram estar expostos ao fumo passivo no local de trabalho (7,6 milhões). No Brasil, apenas 14% dos adultos eram ativos no trabalho. No lazer, menos de um quarto (22,5%) das pessoas praticavam o nível recomendado de atividade física. Com relação ao uso do álcool, quase um terço do respondentes (33,1%) ocupados consumiu bebida alcoólica uma vez ou mais por mês e 17,6% relataram consumo abusivo de álcool. Mais de 60% dos respondentes relataram não consumir as quantidades recomendadas de frutas, verduras e hortaliças.

As informações demonstram que não basta a chamada “gestão do absenteísmo” que visa controlar as faltas ao trabalho através do gerenciamento dos agravos e suas consequências. Naturalmente, é fundamental e básico conhecer a realidade através do perfil de afastamentos, incluindo os diagnósticos, aspectos demográficos e sociais e o ambiente psicossocial da empresa. Mas é necessário ir além.

Os resultados somente ocorrerão se houver uma abordagem integral e integrada em saúde populacional. Como se constatou, a baixa adoção de estilos de vida saudáveis que pode prevenir até 80% das doenças crônicas levará inevitavelmente à ocorrência de taxas crescentes de doenças cardiovasculares, diabetes, doenças pulmonares crônicas e câncer. Além disso, a saúde mental é negligenciada e aumenta os riscos de comportamentos não saudáveis, acidentes e afastamentos. Recentemente documento do Banco Mundial propõe tirar o tema das “sombras (Out of Shadows) e abordar o tema de maneira séria e estratégica.

Neste sentido, é fundamental buscar criar programas amplos na empresa, em parceria com as operadoras de saúde, com a integração das informações em sistemas inteligentes, planejamento adequado e ações efetivas buscando resultados alinhados com as expectativas da organização.