Sábado, 10 de novembro. No palco, vários artistas fazem shows e pedem doações do público em um encontro transmitido pelo SBT durante 24 horas. O grande evento é o Teleton, que há mais de uma década contribui para a receita da Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD). Este ano, a arrecadação superou a cifra de 2011, de R$ 26,8 milhões, atingindo R$ 30,1 milhões, e o montante já corresponde a 10% da receita da entidade.

Mas voltemos ao palco. Quem está lá, ao lado do Silvio Santos, é Regina Helena Scripilliti Velloso. A executiva é voluntária na instituição há 12 anos e tem sua história totalmente ligada à AACD: seu pai, Clóvis Scripiliti, comprou o Teleton. E não é só. Este ano, ela começou a presidir o conselho administrativo da instituição, em um momento de busca por profissionalização e desenvolvimento das práticas de governança corporativa.

?A Regina assume num momento inovador, em que se deixa de ter diretoria voluntária e passa-se a ter como órgão gestor um conselho com 105 membros?, explica o CEO, João Octaviano Neto, um dos executivos contratados para tocar o dia a dia na entidade.

A história de Octaviano Neto com a AACD também não começou agora. Há 12 anos na instituição, o executivo já passou por diversos cargos de forma voluntária e agora está à frente da operação, com um grupo de mais cinco contratados nas áreas de marketing e captação, institucional, operações, administração e finanças e superintendência clínica. O modelo substitui 25 diretores e um presidente que atuavam como voluntários até então. Essa é a primeira vez que a instituição tem profissionais contratados em seu corpo diretivo.

A guinada rumo às melhores práticas significa profissionalizar a gestão, mas também funciona como vitrine de atração de recursos para uma organização que tem em sua origem a filantropia e o voluntariado. O começo dessa mudança ocorreu há seis anos, com o trabalho de consultoria do Instituto de Desenvolvimento Gerencial (INDG), que foi financiado pela Brava.

?O novo modelo de Governança Corporativa foi desenhado com conselho de administração e, dentro dele, o presidente do conselho com seis vice-presidentes, mais os outros vice-presidentes natos, que são da diretoria voluntária?, explica Octaviano Neto, acrescentando que o modelo foi desenhado durante os mandatos de Horácio Lafer Piva e Eduardo Carneiro, ao longo de dois mandatos de três anos.

Na estrutura atual há comitês coordenados por conselheiros que se relacionam diretamente com a presidente: planejamento e finanças, jurídico, nomeação, médico e auditoria.

Imã de recursos

De caráter voluntário, a instituição de 62 anos hoje é um conglomerado que reúne seis fábricas, onde são produzidas as órteses e próteses e cerca de 65 mil itens por ano. A pretensão é chegar a 16 unidades de reabilitação até o final de 2012, já com os recursos do Teleton. E é para garantir essa expansão que o modelo de governança corporativa vem sendo tão trabalhado. Afinal, se a transparência na prestação de contas é importante para qualquer entidade, quando se trata de uma organização que depende de doações e, portanto, credibilidade, as boas práticas se tornam questão de sobrevivência.

?O que procuramos é que, com a governança corporativa, se tenha a maior autossustentabilidade possível, ou seja, que se possa gerar recursos e participar de leis de incentivo e toda a mecânica de financiamento do terceiro setor. Porque sempre precisaremos de bons doadores – frequentes permanentes e fidelizados, que ajudam a nossa associação no ponto de vista do equilíbrio orçamentário?, diz o CEO.

O Hospital Abreu Sodré, localizado na capital paulista e mantido pela AACD, é um desses exemplos. Entre 30% e 35% dos recursos são provenientes do SUS.Os outros 70% são receitas geradas por cirurgias particulares e doações. Todos os pacientes dos centros de reabilitação são custeados com os recursos do sistema público e cerca de um terço das cirurgias tem parte do custo coberto pelo SUS.

?E é aí que a AACD complementa e entra o caráter filantrópico. Tanto no centro de reabilitação, quanto na oficina de órteses e próteses e no hospital, em grande medida, há necessidade de complementar essa receita. Em alguns casos o SUS cobre 100% das receitas, mas nem sempre?, explica o executivo.

E é justamente no recebimento dos repasses que Octaviano Neto enfatiza a importância da transparência e qualidade na prestação de contas, um dos requisitos da governança implantada. ?Otimizamos os atendimentos do sistema público para recebermos o máximo possível do enquadramento SUS, porque às vezes erramos no enquadramento e recebemos menos?, explica, e aconselha: ?as entidades precisam se adequar ao regramento do SUS de forma muito mais coerente e convergente com as tabelas e o modelo. Isso faz com que se diminua muito o processo de perda no repasse SUS.?

Neto traz a experiência de quem trabalhou no governo como secretário municipal de Serviços e Obras. Segundo ele, o conhecimento ajuda a entender os mecanismos e as estruturas internas do governo e os trâmites burocráticos.