A UTI é um espaço de excelência médica que reúne o que há de mais avançado no conhecimento científico e tecnológico para lutar pela vida do paciente grave. É um lugar de vida e não de morte. Estatísticas comprovam que mais de 90% dos pacientes que passam pelo ambiente sobrevivem. No entanto, a qualidade de vida pós-alta da UTI tem sido um grande desafio para os profissionais intensivistas.
Estudos identificam que, independentemente da idade, um indivíduo pode levar de 1 a 5 anos para voltar às suas atividades normais após a alta.
“O intensivista tem papel pequeno fora da UTI, mas é fundamental que se preocupe e esteja ciente do que acontece com o paciente após a alta, e como pode ser difícil a sua reabilitação e reintegração à sociedade”, alerta um dos coordenadores do evento, Dr. Paulo César Ribeiro, médico intensivista do Hospital Sírio Libanês.
As estatísticas são bastante preocupantes: 70% dos jovens, por exemplo, que tenham ficado internados em uma UTI de 15 a 20 dias, ainda não conseguem caminhar seis minutos com facilidade após um ano da alta e, em cinco anos, apenas 60% desses recuperam parte de suas habilidades antes do trauma.
Por quê?
Dr. Paulo Ribeiro explica que, além das possíveis sequelas do trauma, muitas das medidas terapêuticas tomadas dentro das unidades de terapia intensiva afetam a recuperação do paciente crítico. Entre elas, a sedação. “É preciso quebrar esse paradigma que a sedação total auxilia no processo do tratamento dos pacientes críticos, porque quanto menos tempo um paciente ficar sob o efeito total dessa sedação, mais rápido é sua recuperação, pois o cérebro precisa voltar a funcionar para que esse paciente não sofra com problemas cognitivos e desenvolva Delirium”, disse.
O Delirium é um dos graves problemas da sedação completa e prolongada. Trata-se de uma perturbação da consciência acompanhada por uma alteração na cognição, que não pode ser atribuída à demência preexistente ou em evolução. É uma síndrome clínica e orgânica de etiologia múltipla e frequentemente mal diagnosticada, que pode levar à morbidade e ao óbito.
O médico também alerta que a sedação por muito tempo, a utilização de algumas drogas no tratamento, a falta de fisioterapia e a nutrição pobre em podem levar à atrofia muscular do paciente.
Uma das estratégias que será discutida ganho de massa muscular ou para evitar a sua perda exagerada é o uso de anabolizantes. “No passado, o uso de anabolizantes, como o hormônio de crescimento, trouxe resultados desastrosos, e outros anabolizantes, como os derivados de hormônios masculinos, mostraram resultados muito duvidosos”, explicou Dr. Paulo Ribeiro.
O médico explicou que, atualmente, há hormônios bioidênticos, ou seja, mais parecidos com os hormônios humano e que são usados, para outros fins, dose muito menores do que as usadas anteriormente. Então, novamente, abre-se a perspectiva de haver uma janela para se usar de forma mais benéfica os anabolizantes na UTI.
Outro ponto levantado pelo médico é as sessões de fisioterapia, mesmo quando em ventilação mecânica (respiração com a ajuda de aparelhos). Hoje é possível caminhar com um interno no quarto – quando há espaço – usando o ventilador pulmonar específico; quando não, exercícios fisioterápicos no leito são fundamentais para a manutenção e recuperação dos movimentos, para o fortalecimento muscular. “Essas mudanças, com certeza, contribuem para mudar as estatísticas e proporcionam uma vida pós-UTI mais confortável. Precisamos salvar a vida do paciente sim, mas também devemos proporcionar a ele uma boa qualidade de vida”, disse.