Cada vez se torna importante a busca da inovação através do embasamento técnico-científico evitando equívocos, desperdícios e perda de tempo e energia. Apesar da baixa produção científica no campo da saúde suplementar em nosso país, há estudos que podem contribuir para qualificar as ações e programas visando a inovação na gestão e no cuidado em saúde. Cito alguns exemplos relevantes:
- Precisamos usar as informações mais atuais e confiáveis para a gestão dos programasNeste contexto, o Vigitel Saúde Suplementar, lançado em novembro deste ano permite ter uma visão ampla dos fatores de risco e proteção para doenças crônicas não transmissíveis em todas as capitais brasileiras em adultos que são beneficiários de planos de saúde. Além disso, permite a comparação com o Vigitel (que abrange toda a população) e uma visão da curva histórica das pesquisas anteriores. Naturalmente, também não é necessário “inventar a roda” com a criação de questionários sobre estes fatores, mas sim utilizar os itens sobre cada tópico, pois eles foram criados com base em evidências científicas e parâmetros internacionais. Assim, se o gestor da operadora utilizar estas questões poderá comparar os resultados de seu programa com o obtido no Vigitel Saúde Suplementar.
- Gestão em saúde populacional pode reduzir os efeitos da mudanças na estrutura etária dos beneficiários dos planos de saúde no BrasilDe acordo com pesquisa realizada por especialistas do CEDEPLAR-UFMG, financiada pela ANS-OPAS, analisando os dados do Sistema de Informação de Beneficiários (SIB) da ANS e a evolução das despesas e das receitas das OPS por grupos de idade em uma amostra de 21 operadoras. Sem dúvida, este estudo é um importante subsídio para a análise do pacto intergeracional na saúde suplementar e a discussão sobre as regras de precificação. Com relação à análise das receitas e despesas na amostra estudada, encontraram-se resultados positivos em quase todos os grupos de idade exceto entre os mais velhos (80-89 e 90+), sendo que os grupos mais jovens (até 39 anos) são responsáveis por quase 70% do resultado positivo total das operadoras. Portanto, o cuidado adequado e a atenção à saúde de toda a população atingida permitem uma maior possibilidade de equilíbrio entre receita e despesa.
- Cada vez mais é importante orientar o usuário para a utilização racional do sistema de saúdeOs beneficiários do sistema de saúde, frequentemente, enxergam a atenção à saúde somente com o olhar do acesso a serviços e acreditam que o cuidado adequado é obtido quando as consultas, exames e procedimentos são realizados em prazo curto, não há espera para atendimento e tem uma ampla rede de serviços à sua disposição. Pesquisa realizada por pesquisadores da UFES e UFF, financiada pela ANS e OPAS analisou, dentre outros aspectos, quase 20.000 e-mails dos beneficiários da região sudeste enviados à Central de Relacionamento da ANS de março de 2014 a março de 2015. A principal queixa (43%) foi a dificuldade/impossibilidade de acessar os serviços devido à imposição de condicionantes, a entrega de laudos, relatórios, documentos, avaliação por perícia, etc, os problemas de comunicação entre operadoras e beneficiários (informações contraditórias, dificuldade de estabelecer contato). Em 30% houve a negação direta do acesso por parte das operadoras e em 27% restrição da rede de prestadores. Apesar dos pesquisadores entenderem que as questões ligadas ao acesso a serviços tem forte relação com a questão da integralidade na atenção à saúde, em minha opinião, o aspecto mais relevante para os gestores da saúde suplementar se refere à importância da educação do usuário, à organização do acesso aos serviços e a busca de uma melhor comunicação com o consumidor.
- As ações para rastreamento de cancêr precisam ser revistasAs campanhas envolvendo a comunidade, com os meios de comunicação e várias organizações são cada vez mais frequentes e utilizam o rastreamento oportunístico, ou seja, não se direcionam para o público-alvo baseado nas diretrizes clínicas e nas evidências científicas. No entanto, é importante que os gestores das operadoras de saúde tenham discernimento para a escolha da melhor estratégia, evitando desperdício com exames e procedimentos desnecessários e onerosos. Um estudo, vencedor do Prêmio IESS de Produção Científica em Saúde Suplementar, feito por Marcia Rodrigues Braga, envolvendo mais de 120.000 mamografias realizadas por beneficiárias de uma autogestão em saúde, constatou que a proporção de mulheres que realizou o exame na faixa etária de 40 a 49 anos superou a utilização das de 50 a 69 anos (a faixa etária recomendada por diretrizes internacionais e pelo INCA), sendo elevada também a utilização do exame por mulheres da faixa etária de 30 a 39 anos. A taxa de reconvocação por alterações na mamografia de rastreamento foi mais elevada que aquela evidenciada no contexto dos Programas de Rastreamento Organizados do Canadá em todas as faixas etárias, atingindo o auge nas mulheres de 40 a 49 anos, nas quais um quarto das mulheres submetidas ao rastreamento com mamografia realizou algum outro exame de mama no período subsequente.
- Calcular os custos totais em saúde é viável e muito importante para a gestão em saúdeUm estudo realizado por Fabiana Maluf Rabacow, que recebeu o Prêmio IESS de Produção Científica em Saúde Suplementar, fez a avaliação de 2201 trabalhadores de uma companhia aérea em São Paulo com foco no absenteísmo e nos custos com assistência médica. Durante os 12 meses de seguimento do estudo, 53.5% dos trabalhadores tiveram pelo menos um episódio de afastamento por doença e entre esses, a média de absenteísmo foi de 8.3 dias de trabalho. A média de gastos por trabalhador com serviços de saúde foi de US$505. Constatou-se que o tabagismo foi associado a maior absenteísmo e excesso de peso foi associado a maiores gastos com saúde. Mas a maior contribuição foi a construção de um modelo que permita a avaliação dos custos totais em saúde em uma empresa brasileira que pode ser reproduzido em outras realidades e que é amplamente utilizada em vários países.
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