Com envelhecimento da população brasileira, perda da sensibilidade auditiva tem impacto profundo e devastador na vida psicossocial do idoso
O crescimento da população idosa no Brasil tem como efeito uma atenção maior por parte de vários especialistas da área da saúde. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a população com 65 anos ou mais, que era de 4,8% em 1991, passou a 5,9% em 2000 e a 7,4% em 2010. Em 2025, o Brasil terá a 6ª população de idosos em termos absolutos e poderá exceder 30 milhões de pessoas, ou seja, 13% da população total.
A prevenção e a conscientização das deficiências são importantes e contribuem para o melhor bem estar físico, mental e social com o avançar da idade. Entre elas, a perda da sensibilidade auditiva, um processo às vezes rápido ou que acontece ao longo dos anos. Inexoravelmente, ocorrerá o declínio desta sensibilidade, uma vez que o sistema auditivo é um dos órgãos que envelhece como tudo mais no organismo.
A perda da sensibilidade auditiva resultante do envelhecimento é conhecida como presbiacusia, caracterizada por uma perda auditiva bilateral para tons de alta frequência, devido a mudanças degenerativas e fisiológicas no sistema auditivo, com o avançar da idade.
“Idosos portadores de presbiacusia têm diminuição da sensibilidade auditiva e redução na inteligibilidade da fala, o que vem a comprometer seriamente o seu processo de comunicação verbal. Como consequência, as respostas inadequadas de indivíduos idosos presbiacúsicos geram uma imagem de senilidade (o que não condiz com a realidade). A queixa típica destes indivíduos é a de ouvirem, mas não entenderem o que lhes é dito”, ressalta a fonoaudióloga e especialista em audiologia Elisabetta Radini, coordenadora do Departamento de Audição da OTO-SONIC e mestre em Distúrbios da Comunicação pela PUC-SP.
A degeneração que mais decisivamente interfere com a audição envolve as estruturas da orelha interna. O envelhecimento da orelha humana é o resultado cumulativo de vários fatores extrínsecos etiológicos somados ao modelo de envelhecimento geneticamente determinado: exposição a ruídos ocupacionais e não ocupacionais; nutrição; estresse; uso de medicamentos.
A incidência da presbiacúsico é maior nos homens de uma forma geral, embora na população feminina, após os 65 anos, os índices são mais elevados do que na masculina para esta faixa etária. O processo de envelhecimento revela-se pelas mudanças na sensibilidade auditiva para 1000 Hz, começando aos 30 anos de idade. A partir daí, a queda para esta frequência é de cerca de 3dB e, para 6000Hz, o decréscimo é de aproximadamente 10dB para cada 10 anos de vida, até os 70 anos.
A despeito da visão tradicional da presbiacusia estar centralizada nas alterações de orelha interna, nenhuma parte do sistema auditivo escapa dos efeitos do envelhecimento.
A Organização Mundial de Saúde estabelece duas consequências importantes para a deficiência auditiva:
Incapacidade auditiva: refere-se à qualquer restrição ou falta de habilidade para desempenhar uma atividade dentro de uma faixa considerada normal para o ser humano. Percepção de fala em ambientes ruidosos, televisão, rádio, cinema, teatro, igrejas, sinais sonoros de alerta, música e sons ambientais.
Handicap (desvantagem): relaciona-se aos aspectos não auditivos, resultantes da deficiência e da incapacidade auditivas, os quais limitam ou impedem o indivíduo de desempenhar adequadamente suas atividades diárias e comprometem suas relações na família, no trabalho e na sociedade. Esta desvantagem é grandemente influenciada por idade, sexo e pelos fatores psicossociais, culturais e ambientais.
Principais implicações da deficiência auditiva no idoso:
Ser um idoso portador de deficiência auditiva adquirida é algo que vai além do fato do indivíduo não ouvir bem, levando a implicações psicossociais sérias para a vida deste indivíduo e para os que convivem com ele diariamente.
• Redução na percepção da fala em várias situações e ambientes acústicos.
• Alterações psicológicas: depressão, embaraço, frustração, raiva e medo, causados por incapacidade pessoal de comunicar-se com os outros.
• Isolamento social: interação com família, amigos e comunidade seriamente afetada.
• Incapacidade auditiva: igrejas, teatro, cinema, rádio e TV.
• Problemas de comunicação com médicos e profissionais afins.
• Ansiedade/frustração/falha/raiva/afastamento da situação de comunicação.
• Problemas de alerta e defesa: incapacidade para ouvir pessoas e veículos aproximando-se, panelas fervendo, alarmes, telefone, campainha da porta, anúncios de emergências em rádio e TV.
Perda parcial ou total das possibilidades auditivas sonoras
Variação de graus e níveis:
Audição normal: corresponde à habilidade para detecção de sons até 20 dB N.A (decibéis, nível de audição).
De 25 a 40 decibéis (db) – surdez leve
De 41 a 55 db – surdez moderada
De 56 a 70 db – surdez acentuada
De 71 a 90 db – surdez severa
Acima de 91 db – surdez profunda
Anacusia = diferente de surdez, significa falta de audição, onde existem resíduos auditivos.