Um dos mais importantes órgãos do corpo humano, a tireoide é a responsável pela produção de dois hormônios – o T3 (triiodotironina) e o T4 (tiroxina) – essenciais para a regulação do metabolismo. Assim, uma tireoide menos ou mais ativa, pode causar manifestações clínicas que afetam a qualidade de vida dos pacientes. O problema, é que, às vezes, os sintomas podem ser leves ou inespecíficos, e o diagnóstico acaba não ocorrendo. Ou seja: muitas pessoas podem ter algum tipo de problema, porém desconhecem o fato. Dados do Ministério da Saúde e da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) mostram que cerca de 10% das mulheres brasileiras acima de 40 anos e 20% daquelas com mais de 60 anos sofrem com algum tipo de problema na tireoide.

As doenças surgem devido ao próprio envelhecimento da glândula, a processos orgânicos normais, e ainda por outras causas, como, por exemplo, a gravidez. Aliás, os problemas referentes à tireoide são bastante frequentes entre mulheres. Para se ter uma ideia, segundo a SBEM, para cada sete mulheres com alguma doença ligada à glândula, há apenas um homem.

A endocrinologista Ana Cristina Belsito, do Hospital São Vicente de Paulo (RJ), e membro da Sociedade Brasileira de Diabetes e da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, lembra a importância dos hormônios T3 e o T4. “Eles são essenciais porque interferem em vários controles do organismo, como os batimentos cardíacos, a temperatura, o metabolismo – conjunto de mecanismos químicos necessários ao organismo-, que pode ficar mais rápido ou lento, e os movimentos intestinais. Por isso, quando estão em falta ou em excesso, o corpo todo sente”, comenta.

Ana Belsito explica que o hipotireoidismo ocorre porque o T3 e o T4 ou estão sendo produzidos em menor quantidade, em relação ao que o corpo precisa, ou nem estão sendo produzidos. Nesse caso, o organismo acaba trabalhando de forma mais lenta e entre os principais sintomas estão: cansaço, desânimo, alteração do padrão de sono, pele seca, aumento de peso, inchaço, aumento da pressão arterial, retenção de líquidos, alterações na menstruação, sonolência e intestino preso.

Por outro lado, quando a tireoide está superativa, o que é chamado de hipertireoidismo, há excesso na produção de hormônios, o que acelera as funções do organismo. Os batimentos cardíacos ficam mais rápidos, resultando em taquicardia. Além disso, a pessoa fica agitada e nervosa, perde o sono e pode apresentar também diarreia.

A endocrinologista lembra ainda que os problemas com a tireoide nas mulheres surgem mais intensamente durante a menopausa, e que crianças e adolescentes também podem sofrer de hipo ou hipertireoidismo. Segundo a médica, o ideal é descobrir a doença no início e começar logo o tratamento. E a melhor forma de saber se a glândula está funcionando bem é realizar exame de sangue para a dosagem de TSH (Thyroid Stimulating Hormone), o hormônio da hipófise que controla várias glândulas, como os ovários, as suprarrenais e a tireoide.

“O TSH estimula a glândula a produzir o T3 e o T4, que, em quantidade suficiente, inibem a produção do TSH pela hipófise. Portanto, se a taxa de TSH estiver baixa, os hormônios da tireoide estão em excesso e se o nível estiver acima do esperado, haverá pouco hormônio”, explica. Como não é possível prevenir os problemas na glândula, a receita do endocrinologista é manter uma dieta equilibrada e praticar atividades físicas regularmente, atitudes que garantem uma vida mais saudável.

Outros problemas que atingem a tireoide

Além do excesso ou da falta de hormônios, a tireoide também pode apresentar nódulos que, na grande maioria dos casos, são benignos. A formação está relacionada à anatomia da glândula, que é rugosa e coberta por folículos, onde são estocados os hormônios. Esses folículos podem crescer de forma desordenada, tornando-se nódulos ou cistos, que podem, ou não, comprometer o funcionamento da tireoide.

“É muito comum haver o nódulo e a glândula funcionar normalmente. Em torno de 20% dos casos resultam em problemas mais sérios, como o câncer”, explica o médico Carlos Fuser, especialista em medicina nuclear pela John Hopkins University, nos Estados Unidos, e diretor da Clínica São Carlos (RJ), especializada no tratamento oncológico. De acordo com ele, 80% dos tumores de tireoide não são agressivos e tem até 96% de chances de cura, com tratamento que inclui a cirurgia e iodoterapia.

“O tratamento da neoplasia neste caso é feito com o Iodo 131 – uma das substâncias radioativas usadas na medicina nuclear. O tratamento em dose única elimina totalmente o tecido canceroso, e pode ser realizado em pessoas de qualquer idade”, lembra o especialista.

Fuser esclarece ainda que a substância é usada também no diagnóstico de mau funcionamento da glândula, no tratamento do hipertireoidismo. De acordo com o médico, que já tratou mais de oito mil casos de câncer de tireoide, as alterações da tireoide tem como causa mais frequente o componente familiar. Além disso, esse é o mais comum dos cânceres do sistema endócrino e ocorre em todas as faixas etárias, atingindo, na sua maioria, mulheres acima de 35 anos.

Segundo estimativa do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca), o número de casos de câncer de tireoide vem aumentando e a patologia já consta da lista de tumores mais frequentes no Brasil.

O hipotireoidismo congênito é outra doença relacionada à tireoide, que, neste caso, não produz o hormônio tireoidiano T4, o que impede o desenvolvimento do recém-nascido. A doença é detectada no bebê por meio do teste do pezinho, feito ainda na maternidade. Segundo dados do Ministério da Saúde, a incidência de hipotireoidismo congênito no País é de um caso para cada 3,5 mil nascidos vivos. É possível diagnosticar e tratar a doença, porém é preciso que isso ocorra na primeira semana de vida.