Plantões, mais de um emprego e longas jornadas semanais, essa é a realidade de pelo menos 78% dos médicos, conforme a publicação “Demografia Médica Brasileira”, feita pelo Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). 37,8% deles, ainda segundo a pesquisa, também acumulam cargos de gestão.

“Não raramente, profissionais de saúde se vêem exercendo posições de gestores, sem sequer terem sido preparados para tal. Isso pode acarretar em conseqüências sérias, como prejuízos e descontrole financeiro”, pondera Silvane Castro, MBA em finanças pelo Ibmec Business School.

Ela ressalta que, como a gestão financeira envolve diversas etapas e demanda tempo, acaba sendo deixada de lado. “Como não são identificados, alguns erros se repetem, virando uma bola de neve. Por fim, ao serem percebidos já é tarde demais”, alerta Silvane.

Confira, abaixo, dez dicas que a consultora dá para evitar problemas:

1. Não misture contas pessoais com as do consultório: Não separar a administração financeira é um erro comum que pode levar a grandes problemas. “Essa postura gera descontrole de gastos, pois dificulta a identificação de quem realmente é o detentor da divisa”.

2. Cuidado na hora de calcular o valor da consulta: O ideal é pesquisar com outros médicos da área, considerar o custo mensal do consultório e a capacidade de atendimento no mês, avaliando também a expectativa de ganho. “Ao contrário da opinião geral, esse ganho não está relacionado à especialidade e usar o valor pago pela operadora de saúde como referência também não é uma boa”, pontua.

3. Conheça em detalhes as finanças do consultório: É preciso utilizar ferramentas adequadas de controle, como sistemas de gestão e relatórios apropriados. Além disso, deve ser definida uma estratégia de custeio – nesse último a orientação de um profissional de administração pode ser útil.

4. Planeje sua carreira, incluindo a aposentadoria: O planejamento é um ponto-chave para um futuro tranquilo. Se, no início da carreira, é comum ter rotinas de trabalho pesadas, para não haver surpresas no futuro são necessários alguns cuidados.

5. Trate a atividade médica como negócio: Preocupação com rentabilidade é importante em qualquer profissão. “Não fuja do assunto e nada de achar que a busca do lucro corrompe seu trabalho”, garante Silvane. Para ela, buscar resultados e trocar ideias sobre resultados financeiros pode evitar situações difíceis.

6. Dê atenção à gestão financeira da clínica: Crie um setor financeiro e, se necessário, terceirize o serviço. Contudo, procure entender minimamente do assunto para acompanhar o processo e cobrar dos responsáveis.

7. Não espere para começar a poupar: “Há quem pense que só dá para fazer reservas quando a renda já é suficientemente alta. Isso é um engano”. O mais indicado é guardar proporcionalmente aos ganhos.

8. Arrisque com moderação: Em alguns momentos, ousar é importante, garante Silvane, mas pecar pelo excesso de otimismo pode ser fatal. Por isso, um estudo de viabilidade econômico, feito com auxilio de especialistas, é recomendado.

9. Conheça seu público-alvo: Sua estrutura, desde a sala de espera até os equipamentos adquiridos, deve ser escolhida de acordo com o perfil de seus pacientes. “Já vi médicos superdimensionarem as estruturas de clínicas e consultórios com conforto, luxo, tecnologia de ponta e atraírem pacientes sem condições para pagar pelo serviço”, pondera a consultora financeira.

10. Não sacrifique sua qualidade de vida: É preciso haver equilíbrio entre planos pessoais e profissionais, por isso, pode ser vantajoso diminuir gastos e volume de trabalho para ganhar qualidade de vida.