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Entre a empolgação da inovação hospitalar e a realidade ultrapassada da prática clínica

Article-Entre a empolgação da inovação hospitalar e a realidade ultrapassada da prática clínica

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Alinhar hospitais, fontes pagadoras, médicos e pacientes não é tão óbvio quanto pode parecer.

Sempre que posso, participo dos encontros anuais da Society of Hospital Medicine (SHM). Esses eventos costumam ser fonte de boas histórias, além da excelente programação teórica.

Este ano, foi em San Diego, Califórnia. Havia um médico brasileiro participando pela primeira vez, claramente empolgado. Sua energia me fez lembrar da minha primeira vez no evento, quase duas décadas atrás.

De forma semelhante, como quem descobria um novo mundo, ele externava ideias muito parecidas com aquelas que trouxe para o Brasil nos anos 2000. Em uma conversa descontraída, após um dos últimos dias do evento, enquanto tomávamos uma IPA californiana, ele repetia com entusiasmo frases que ecoavam os primeiros conceitos que introduzi sobre Medicina Hospitalista:

“Novos modelos de remuneração surgirão. Aliás, estão chegando”;

“Como médicos, estamos cientes e em preparação, sairemos na frente”.

“Nossos colegas estão passos atrás, ainda não reconhecem sequer a importância de falar a mesma língua dos administradores da saúde”.

“Quando os hospitais perceberem que podemos reduzir custos de forma drástica, ninguém nos segura – os hospitalistas serão indispensáveis. Eu já estou de olho no maior e mais prestigiado hospital da minha cidade, que atualmente possui um corpo clínico que não valoriza eficiência e valor”.

Obviamente, não era o momento de acabar com a empolgação e entusiasmo dele. No entanto, é importante reconhecer algumas questões, até para organização e planejamento.

Muitos hospitais, em especial esses da moda e com corpo clínico aberto, ainda operam como varejistas de insumos. Valor para eles é diferente do que é valor para as fontes pagadoras. Ainda é necessário alinhar melhor alguns aspectos para que tudo se torne tão óbvio e fácil quanto o colega empolgado imagina.

Retornei ao Brasil e encontrei um amigo acompanhado de um administrador de serviço em saúde não verticalizado. Como ele não me conhecia, não teve filtros. Reclamou que seus médicos pediam poucos exames... Disse que recentemente compraram uma certa máquina, mas os profissionais não a utilizavam o suficiente. “Precisamos ao menos cobrir o investimento”, disse, visivelmente incomodado.

Sem o entusiasmo do colega no evento da SHM pois já adquiri maturidade e estou escaldado lembrei ao administrador da possibilidade de novos modelos de pagamento e o quanto ele deveria se preparar para entregar diferente. “Quando essas mudanças chegarem, eu pensarei nisso. Por enquanto, enquanto puder, eu não quero nem papo com os planos de saúde”, respondeu. 

É uma pena que o colega empolgado do evento da SHM não estivesse presente nesta conversa. Poderia recalibrar... Quem sabe concluir que a verticalização seria o segredo para o tal alinhamento. É um assunto que foge um pouco da mensagem principal pretendida neste texto e muito vasto. Por enquanto, deixo apenas uma sugestão de leitura: Big Med: Megaproviders and the High Cost of Health Care in America.